Data do post: 22/03/2018 - 08:30
Quase 60 mil pessoas foram assassinadas no Brasil em 2017
Houve um aumento de 2,7% em relação a 2016, quando foram registradas 57.549 vÃtimas no paÃs. Como parte dos dados de 2017 será revisada e estados como Tocantins e Minas Gerais dizem que o balanço completo não está fechado, a tendência é que esse crescimento seja ainda maior. Além disso, em muitos estados os casos de morte em decorrência de intervenção policial não entram na conta de homicÃdios – ou seja, é seguro dizer que a estatÃstica passa dos 60 mil (só no RJ, por exemplo, houve 1.124 casos do tipo no ano passado).
O levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Jornalistas do G1 espalhados pelo paÃs solicitaram os dados via Lei de Acesso à Informação seguindo o padrão metodológico utilizado pelo fórum no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado normalmente no fim do ano.
PÃGINA ESPECIAL: Mapa mostra mortes violentas no paÃs
METODOLOGIA: Monitor da Violência
O levantamento revela que:
- O Brasil teve 59.103 pessoas assassinadas no ano passado (um aumento de 2,7% em relação ao ano anterior)
- A taxa de mortes a cada 100 mil habitantes subiu e está em 28,5
- O número de homicÃdios e de lesões corporais seguidas de morte cresceu, mas o de latrocÃnio (o roubo seguido de morte) caiu
- O Ceará é o estado que teve o maior crescimento de mortes tanto em número absoluto (1.677 mortes a mais em um ano) como percentualmente (48,5%)
- O Rio Grande do Norte é o que tem a maior taxa de mortes: 64 a cada 100 mil
Página especial
A ideia, no entanto, não foi apenas antecipar os números do ano passado, mas criar uma nova ferramenta que permita que o público acompanhe, da forma mais atualizada possÃvel, os dados de mortes violentas no paÃs.
Uma página especial foi desenvolvida para mostrar mês a mês os números disponÃveis. O objetivo é, além de possibilitar um diagnóstico em tempo real da violência, cobrar transparência por parte dos governos.
O mapa que exibe os dados de janeiro deste ano, por exemplo, conta com as informações de 21 estados e do Distrito Federal. Outros cinco, no entanto, ainda não dispõem do número. Isso mais de um mês e meio depois. Veja a justificativa de cada um deles:
- Bahia: a secretaria diz que o setor que trabalha com o fechamento dos dados não determina um prazo para a conclusão e que, quando as informações forem liberadas, serão divulgadas
- Ceará: a secretaria diz que "os dados estão sendo consolidados e, por isso, não foram divulgados ainda"
- Minas Gerais: a secretaria diz que os dados de janeiro de 2018 serão divulgados apenas em abril. A pasta afirma que os números passam por auditagem para "total transparência e confiabilidade"
- Paraná: a secretaria diz que ainda não possui a informação. “Os dados alimentados pelas unidades policiais nos sistemas de coleta não passaram pelo crivo de qualidade para divulgação e encontram-se em processo de homologaçãoâ€, diz
- Tocantins: a secretaria diz que as delegacias levam um tempo para informar os números e, por isso, o dado ainda não foi consolidado
Na página especial, é possÃvel navegar por cada um dos estados e encontrar dois vÃdeos: um com uma análise de um especialista indicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e outro com um diagnóstico de um representante do governo.
Ambos respondem a duas perguntas:
- Quem são os grupos/pessoas que mais matam no estado, por que eles matam e como isso mudou ao longo da última década?
- O que fazer para mudar esse cenário?
Não enviaram respostas à s questões em vÃdeo Bahia, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo. Juntos, eles respondem por mais de 1/3 das mortes violentas no ano passado.
Quem mata e por quais motivos
É consenso entre a maioria dos especialistas ouvidos pelo G1 que o perfil de quem mata é parecido com o perfil de quem morre. Em geral, apontam, são homens negros de baixa renda, com baixa escolaridade, com até 29 anos, e moradores da periferia – especialmente locais onde o Estado é ausente e não atua com polÃticas públicas.
Os especialistas afirmam ainda que as mortes costumam ter alguma relação com o tráfico de drogas. Para eles, o aumento no número de crimes violentos está ligado ao fortalecimento e às brigas de facções criminosas. As mortes também são facilitadas pela crescente oferta e circulação de armas de fogo, dizem.
Poucas mortes são esclarecidas. Na maioria dos casos, não há autor do crime identificado, denunciado ou condenado. Os especialistas afirmam que o governo precisa investir mais em prevenção, inteligência e investigação.
O G1 também consultou secretários da Segurança Pública ou pessoas indicadas pela pasta. A maioria também culpa o tráfico de drogas e as organizações criminosas pelo crescimento no número de mortes. A impunidade é bastante mencionada como um dos estÃmulos para mais violência.
O delegado titular da DIH de Goiás, Thiago Damasceno, diz que as facções criminosas de São Paulo e Rio de Janeiro, que se estabeleceram no estado, são as principais responsáveis pelas mortes.
No comando da Segurança Pública e Defesa Social do Rio Grande do Norte, a secretária Sheila Freitas acrescenta ainda que faltam recursos para investir em segurança pública.
“A gente precisa urgentemente de um sistema único de segurança pública pelo qual sejam destinados valores para os estados nos mesmos moldes em que são destinados para a educação e para a saúde. A gente precisa combater o crime maior que causa os homicÃdios. E, a meu ver, o crime maior que causa isso é o tráfico, é a drogaâ€, diz Sheila Freitas.
‘Ano atÃpico’
O Rio Grande do Norte é o estado que teve o maior Ãndice de mortes violentas a cada 100 mil habitantes em 2017: 64. O ano começou com o massacre de Alcaçuz e terminou com um recorde histórico de mortes violentas.
Uma das vÃtimas foi a dona de uma barbearia no Shopping Ayrton Senna. Micaela Ferreira, de 27 anos, foi feita refém durante um assalto a um carro-forte e morreu com um tiro na cabeça enquanto era usada como escudo humano em julho do ano passado.
Um mês antes de morrer, ela postou no Facebook: “Natal está entregue aos bandidosâ€. VÃtima de um assalto, ela decidiu mudar o salão de lugar. Ela estava no novo local havia dois dias apenas.
Questionada sobre a primeira posição do ranking, a Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Norte diz que “não há atualmente no Brasil uma padronização na coleta e publicação dos dados das secretarias de Segurança Pública, implicando que em alguns estados os números de mortes violentas sejam maiores que em outros, ainda que não represente a realidadeâ€.
“Segundo a 11ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o RN se encontra no mais alto grau de transparência e qualidade dos seus dados. O estado pertence ao Grupo 1, no que se refere à qualidade dos dados de homicÃdios. Neste grupo, estão as unidades da federação com dados de homicÃdios de boa qualidade e aderência à proposta do Protocolo de Bogotáâ€, afirma a pasta.
Além disso, o governo diz que 2017 foi um “ano atÃpicoâ€. “Iniciamos, no mês de janeiro, com a crise no presÃdio de Alcaçuz, resultando em um número de mortes elevado. A situação do sistema prisional, que reflete diretamente na segurança pública, está sendo tratada pelo governo do estado como prioridade, o qual já realizou concurso, construiu presÃdios e elaborou um plano para ser estabelecido a longo prazoâ€. “Estamos trabalhando, por meio das polÃcias Militar e Civil, para reduzir, não só as mortes violentas, como os demais números relacionados à segurança.â€
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